quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Família: bênção de Deus

 
Quando Deus quis enviar o seu Filho ao mundo, o fez numa família. Poderia ter feito de outra maneira?

"A Deus nada é impossível" (Lc 1,37), disse o Anjo Gabriel a Maria.

"Tudo é possível e Deus" (Mt 19, 26), disse Jesus a seus discípulos.

Por que então, Deus escolheu este caminho para enviar seu Filho?

Mais do que dar uma explicação de seu gesto, a escolha de Deus aponta numa direção, num valor e num tesouro: esse tesouro, esse valor e essa direção é a família.

É interessante constatar que o Pai pediu muitos sacrifícios a Jesus. Seu Filho nasceu numa gruta; foi perseguido ainda criança; teve adversários; foi condenado à morte como criminoso; morreu na cruz. O que o Pai não lhe pediu foi que nascesse e vivesse numa família desestruturada. Por quê? Porque a família é fundamental para o desenvolvimento harmonioso de uma pessoa. Cada dia temos tristes provas de que um "sem-família" tem maiores dificuldades para ser emocional, psíquica e espiritualmente equilibrado.

Há um texto bíblico que encerra preciosos ensinamentos para as famílias de hoje (Lc 2, 41-52) que recorda a perda e o encontro de Jesus quando ele tinha 12 anos.

À luz desse episódio marcante na vida da Família de Nazaré, aprendemos que a família é, antes de tudo, o lugar da fé. A peregrinação a Jerusalém nos mostra que nesta família Deus ocupava o primeiro lugar e estava no centro da vida de todos. Outra característica: a confiança. O amor de José e Maria não colocava Jesus numa redoma. Além disso, nessa família havia diálogo: cada qual, na liberdade, colocava seus pontos de vista. Dessa ocasião temos a primeira palavra de Jesus: "Não sabeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?" (Lc 2, 49)

Por mais que nos pareça "normal", não deixa de ser extraordinário o fato de que o Filho de Deus tenha tido pais e tenha passado a maior parte de sua vida em uma família. Ali não apenas preparou-se para sua missão, mas já evangelizou. Maria, sua mãe e mestra, muito deve ter aprendido com a maneira de Jesus rezar ao Pai, de agir como Filho e de acolher os outros como irmãos.


A família é uma escola de amor


Hoje, somos testemunhas de que nenhum outro grupo humano sofre tanto as repercussões do mundo que o rodeia como a instituição familiar.

Em cada família ecoam imediatamente os problemas econômicos e os desajustes pessoais; a propaganda e as crises da sociedade; a onda de permissividade e o clima erotizante de muitas novelas e programas televisivos.

Da parte da Igreja, foi sempre uma constante defender e promover a vida familiar. Ela sabe que a família é imagem de Deus. É nela que, normalmente, se aprende que Deus é Pai e que o amor só é verdadeiro quando se traduz em doação, sacrifício e superação de toda forma de egoísmo.

A família é a melhor escola para o amor, isto é, para cada um aprender a ir ao encontro do outro e, assim, fazê-lo feliz. Se é importante e essencial que a criança e o jovem tenham alimentação, saúde e escola, não menos importante é que recebam o que será essencial para seu pleno desenvolvimento: amor, carinho e compreensão. Mais do que por palavras, será pelo exemplo dos pais que esses valores lhes serão transmitidos.

A oração reforça a estabilidade e a solidez espiritual da família, ajudando a fazer com que participe da fortaleza de Deus. Na oração não é Deus que se recorda do ser humano; nós é que tomamos consciência da presença e do amor de Deus em nossa vida.

Estejamos convictos: a oração dos pais pelos filhos tem um poder imenso diante de Deus!

Não podemos ter medo dos desafios que nossas famílias enfrentarão. A força divina é maior do que as dificuldades que elas deverão enfrentar. A graça de Deus, recebida de maneira especial no sacramento do matrimônio, é mais forte do que o mal.

É para cada família, portanto também para a sua, o que Jesus diz: "No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo" (Jo 16, 33).


Fonte: Revista Brasil Cristão - Texto: D. Murilo Krieger, scj, Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil

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