O Papa Francisco instituiu o Ano de São José para celebrar os 150 anos em que o santo foi declarado padroeiro da Igreja Católica.
O anúncio do "Ano de São José" se dá através da Carta Apostólica “Patris Corde” que vem acompanhada do Decreto
da Penitenciária Apostólica relativo a concessão do “Dom de Indulgências
Plenárias Especiais”, ambos publicados pela sala de imprensa da Santa Sé.
Protagonismo sem paralelo .
A Carta Apostólica traz os sinais da pandemia da Covid-19, que – escreve Francisco – nos fez compreender a importância das pessoas comuns, aquelas que, distantes dos holofotes, exercitam todos os dias paciência e infundem esperança, semeando corresponsabilidade. Justamente como São José, “o homem que passa desapercebido, o homem da presença cotidiana discreta e escondida”.
E mesmo assim, o seu é “um protagonismo sem paralelo na história da salvação”. Com efeito, São José expressou concretamente a sua paternidade ao ter convertido a sua vocação humana “na oblação sobre-humana de si mesmo ao serviço do Messias”. E por isto ele “foi sempre muito amado pelo povo cristão”.
Nele, “Jesus viu a ternura de Deus”, que “nos faz aceitar a nossa fraqueza”, através da qual se realiza a maior parte dos desígnios divinos. Deus, de fato, “não nos condena, mas nos acolhe, nos abraça, nos ampara e nos perdoa”. José é pai também na obediência a Deus: com o seu ‘fiat’, salva Maria e Jesus e ensina a seu Filho a “fazer a vontade do Pai”, cooperando “ao grande mistério da Redenção”.
“O objetivo desta carta apostólica é aumentar o amor por este grande Santo, para nos sentirmos impelidos a implorar a sua intercessão e para imitarmos as suas virtudes e o seu desvelo”, explica Francisco na carta que fala de São José sob sete aspectos: pai amado, pai na ternura, pai na obediência, pai no acolhimento, pai com coragem criativa, pai trabalhador e pai na sombra.
Logo na introdução do documento, Francisco recorda que São José era humilde carpinteiro e teve a coragem de assumir a paternidade legal de Jesus. Para defender Jesus de Herodes, foi forasteiro no Egito e, retornando à pátria, viveu na pequena e ignorada cidade de Nazaré, na Galileia, longe de Belém, a sua cidade natal, e de Jerusalém, onde se erguia o Templo.
“Depois de Maria, a Mãe de Deus, nenhum Santo ocupa tanto espaço no magistério pontifício como José, seu esposo. Os meus antecessores aprofundaram a mensagem contida nos poucos dados transmitidos pelos Evangelhos para realçar ainda mais o seu papel central na história da salvação: o Beato Pio IX declarou-o ‘Padroeiro da Igreja Católica’, o Venerável Pio XII apresentou-o como ‘Padroeiro dos operários’; e São João Paulo II, como ‘Guardião do Redentor’. O povo invoca-o como ‘padroeiro da boa morte'”, escreve Francisco no documento.
O Santo Padre explica que, ao completarem-se 150 anos da declaração do santo como Padroeiro da Igreja Católica, ele gostaria de partilhar algumas reflexões pessoais sobre “esta figura extraordinária”, tão próxima da condição humana de cada um. Um desejo que foi crescendo ao longo desses meses de pandemia, revela Francisco, em que foi possível experimentar que a vida é tecida e sustentada por pessoas comuns, que não aparecem nas manchetes dos jornais nem em grandes passarelas: médicos, enfermeiros, trabalhadores de supermercado e de limpeza, por exemplo, entre tantos outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho.
“Quantas pessoas dia a dia exercitam a paciência e infundem esperança, tendo a peito não semear pânico, mas corresponsabilidade! Quantos pais, mães, avôs e avós, professores mostram às nossas crianças, com pequenos gestos do dia a dia, como enfrentar e atravessar uma crise, readaptando hábitos, levantando o olhar e estimulando a oração! Quantas pessoas rezam, se imolam e intercedem pelo bem de todos. Todos podem encontrar em São José – o homem que passa despercebido, o homem da presença quotidiana discreta e escondida – um intercessor, um amparo e uma guia nos momentos de dificuldade. São José lembra-nos que todos aqueles que estão, aparentemente, escondidos ou em segundo plano, têm um protagonismo sem paralelo na história da salvação. A todos eles, dirijo uma palavra de reconhecimento e gratidão”.
“Não se nasce pai, torna-se tal” .
“Não se nasce pai, torna-se tal”, afirma ainda Francisco, porque “se cuida responsavelmente” de um filho assumindo a responsabilidade pela sua vida. Infelizmente, na sociedade atual, “muitas vezes os filhos parecem ser órfãos de pai” que sejam capazes de “introduzir o filho na experiência da vida”, sem prendê-lo “nem subjugá-lo”, mas tornando-o “capaz de opções, de liberdade, de partir”.
Neste sentido, José recebeu o apelativo de “castíssimo”, que é “o contrário da posse”: ele, com efeito, “soube amar de maneira extraordinariamente livre”, “soube descentralizar-se” para colocar no centro da sua vida Jesus e Maria. A sua felicidade está no “dom de si mesmo”: nunca frustrado e sempre confiante, José permanece em silêncio, sem lamentações, mas realizando “gestos concretos de confiança”. A sua figura, portanto, é exemplar, evidencia o Papa, num mundo que “precisa de pais e rejeita os dominadores”, rejeita quem confunde “autoridade com autoritarismo, serviço com servilismo, confronto com opressão, caridade com assistencialismo, força com destruição”.
Na décima nota, “Patris corde” revela também um hábito da vida de Francisco: todos os dias, o Pontífice reza uma oração ao Esposo de Maria tirada de um livro francês de devoções, do século XIX, da Congregação das Religiosas de Jesus e Maria. Trata-se de uma oração que “expressa devoção e confiança” a São José, mas também “certo desafio”, explica o Papa, porque se conclui com estas palavras: “Que não se diga que eu Vos invoquei em vão, e dado que tudo podeis junto de Jesus e Maria, mostrai-me que a vossa bondade é tão grande como o vosso poder”.
Indulgências
Plenárias .
Para obter a indulgência plenária, destaca-se no Decreto, que devem ser cumpridas as condições prescritas pela Igreja para tal efeito: confissão sacramental, comunhão eucarística e rezar pelas intenções do Santo Padre.
As modalidades nas quais se concederá a indulgência plenária no Ano de São José, que começa hoje, são as seguintes:
- “A indulgência plenária é concedida àqueles que meditarem pelo menos durante 30 minutos na oração do Pai-Nosso, ou participarem em um Retiro Espiritual de pelo menos uma jornada no qual se realize uma meditação sobre São José”.
- “Aqueles que, com o exemplo de São José, realizem uma obra de misericórdia corporal ou espiritual poderão lucrar o dom da indulgência plenária”.
- “Para que todas as famílias cristãs se sintam encorajadas a recriar o mesmo ambiente de íntima comunhão, amor e oração que se vivia na Sagrada Família, é concedida a indulgência plenária pela oração do Santo Terço nas famílias e entre os noivos”.
- “A indulgência plenária pode ser lucrada por aqueles que confiem cotidianamente suas atividades à proteção de São José e cada fiel que invoque com a oração a intercessão do Artesão de Nazaré para que, quem se encontre procurando emprego, possa encontrar ocupação e que o trabalho de todos seja digno”.
- “A indulgência plenária é concedida aos fiéis que recitem as Ladainhas a São José (para a tradição latina), ou o Akathistos a São José, inteiro ou pelo menos uma parte (para as tradições bizantinas), ou outra oração a São José propriamente dita de outras tradições litúrgicas pela Igreja perseguida ad intra e ad extra e para o alívio de todos os cristãos que sofrem alguma forma de perseguição”.
- Além disso, "para reafirmar a universalidade do patrocínio de São José sobre a Igreja, além dessas razões, a Penitenciária Apostólica concede indulgência plenária aos fiéis que recitarem qualquer oração legalmente aprovada ou ato de piedade em homenagem a São José". “Por exemplo, 'A ti, oh, San José', especialmente de 19 de março a 1º de maio, na festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José; no domingo de São José (segundo a tradição Bizantina); no dia 19 de cada mês e todas as quartas-feiras, dia dedicado à memória do Santo segundo a tradição latina”.
O Decreto termina especificando que “no atual contexto de emergência sanitária, o dom da indulgência plenária estende-se de modo particular aos idosos, aos doentes, aos moribundos e a todos aqueles que por motivos legítimos não podem sair de casa, aos quais, com a alma livre de todo pecado e com a intenção de cumprir, na medida do possível, as três condições habituais, em casa ou onde estiverem devido à doença, recitem um ato de piedade em homenagem a São José , consolo dos enfermos e padroeiro da boa morte, oferecendo com fé a Deus as dores e sofrimentos da vida”.
A Carta Apostólica, "Patris Corde" (O Coração do Pai), na íntegra, está disponível em língua portuguesa no site da Santa Sé. Acesse aqui.
Fontes: A Santa Sé / Vaticans News / CNBB / Canção Nova / ACI Digital
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